Exame de QualificaçãoMatemática Básica
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UERJ 2019 – Simulado – Q.03

A CIÊNCIA, O BEM E O MAL
Em 1818, com apenas 21 anos, Mary Shelley publicou o grande clássico da literatura gótica, Frankenstein ou o Prometeu Moderno. O romance conta a história de um doutor genial e enlouquecido, que queria usar a ciência de ponta de sua época, a relação entre a eletricidade e a atividade muscular, para trazer mortos de volta à vida.
Duas décadas antes, Luigi Galvani havia demonstrado que a eletricidade produzia movimentos em músculos mortos, no caso em pernas de rãs. Se vida é movimento, e se eletricidade pode causá-lo, por que não juntar os dois e tentar a ressuscitação por meio da ciência e não da religião, transformando a implausibilidade do sobrenatural em um mero fato científico?
Todos sabem como termina a história, tragicamente. A “criatura” exige uma companheira de seu criador, espelhando Adão pedindo uma companheira a Deus. Horrorizado com sua própria criação, Victor Frankenstein recusou. Não queria iniciar uma raça de monstros, mais poderosos do que os humanos, que pudesse nos extinguir.
O romance examina a questão dos limites éticos da ciência: será que pesquisadores podem ter liberdade total? Ou será que existem certos temas que são tabu, que devem ser bloqueados, limitando as pesquisas dos cientistas? Em caso afirmativo, que limites são esses? Quem os determina?
Essas são questões centrais da relação entre a ética e a ciência. Existem inúmeras complicações: como definir quais assuntos não devem ser alvo de pesquisa? Em relação à velhice, será que devemos tratá-la como doença? Se sim, e se conseguíssemos uma “cura” ou, ao menos, um prolongamento substancial da longevidade, quem teria direito a tal? Se a “cura” fosse cara, apenas uma pequena fração da sociedade teria acesso a ela. Nesse caso, criaríamos uma divisão artificial, na qual os que pudessem viveriam mais. E como lidar com a perda? Se uns vivem mais que outros, os que vivem mais veriam seus amigos e familiares perecerem. Será que isso é uma melhoria na qualidade de vida? Talvez, mas só se fosse igualmente distribuída pela população, e não por apenas parte dela.
Pensemos em mais um exemplo: qual o propósito da clonagem humana? Se um casal não pode ter filhos, existem outros métodos bem mais razoáveis. Por outro lado, a clonagem pode estar relacionada com a questão da longevidade e, em princípio ao menos, até da imortalidade. Imagine que nosso corpo e nossa memória possam ser reproduzidos indefinidamente; com isso, poderíamos viver por um tempo também indefinido. No momento, não sabemos se isso é possível, pois não temos ideia de como armazenar memórias e passá-las adiante. Mas a ciência cria caminhos inesperados, e dizer “nunca” é arriscado.
Como se observa, existem áreas de atuação científica que estão diretamente relacionadas com escolhas éticas. O impulso inicial da maioria das pessoas é apoiar algum tipo de censura ou restrição, achando que esse tipo de ciência é feito a Caixa de Pandora*. Mas essa atitude é ingênua. Não é a ciência que cria o bem ou o mal. A ciência cria conhecimento. Quem cria o bem ou o mal somos nós, a partir das escolhas que fazemos.

MARCELO GLEISER
Adaptado de Folha de S. Paulo, 29/09/2013.

* Caixa de Pandora – na mitologia grega, artefato que, se aberto, deixaria escapar todos os males do mundo.

Sabe-se que Mary Shelley, escritora citada no texto, viveu 53 anos. Suponha que ela tivesse vivido até 1903. O aumento do tempo de vida da escritora, em porcentagem, seria igual a:

(A) 180

(B) 150

(C) 100

(D) 60

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