O Iluminismo é um movimento histórico de grande importância, mas também controverso, especialmente porque envolve uma constante tensão entre fé e razão. Esses dois elementos da cultura europeia foram o foco de intensos debates entre os filósofos iluministas, debates esses que geraram impactos que ecoam até hoje.
Antecedentes históricos
Para entender o Iluminismo, é preciso considerar as conquistas humanas desde a Antiguidade Clássica. Os primeiros a refletir sobre o uso da razão foram os filósofos gregos, cujas ideias foram adotadas pelos romanos. Os romanos, por sua vez, contribuíram significativamente com seu sistema de leis, que serviu de base para o direito moderno. Portanto, tanto gregos quanto romanos valorizaram profundamente a razão e a arte.
Com a adoção do cristianismo como religião oficial pelo Império Romano a partir do século IV, a religião passou a desempenhar um papel central nos impérios absolutistas, influenciando profundamente a vida das pessoas e impondo verdades baseadas na fé, o que, para alguns, poderia ser visto como um obstáculo ao desenvolvimento da ciência. Esse contexto de herança grega e romana, combinado com o cristianismo e o absolutismo, prepara o terreno para o surgimento do Iluminismo no século XVII.
Até esse período, os governos eram em grande parte absolutistas, e o conhecimento estava intimamente ligado à fé. No entanto, as descobertas científicas de grandes nomes como Isaac Newton, Copérnico, Kepler e Galileu nos séculos XVI e XVII abriram caminho para uma nova era. Essas descobertas, juntamente com a invenção de instrumentos como o telescópio e o microscópio, permitiram aos cientistas explorar o universo e o mundo microscópico, reavivando a tradição racional greco-romana e gerando os primeiros confrontos entre ciência e religião.
Com o avanço da matemática e da física, a visão de mundo começou a mudar drasticamente. René Descartes, por exemplo, revolucionou o método científico, desafiando o sistema antigo, representado pelos governos absolutistas e pelo clero, que os filósofos iluministas chamavam de “Antigo Regime”.
Os principais filósofos iluministas
A maior força do Iluminismo surgiu na França, onde o cenário social e político era propício ao desenvolvimento do movimento. Filósofos como Voltaire criticavam os privilégios da nobreza e do clero e promoviam a dúvida e o desafio às autoridades. Voltaire, por sua postura crítica, foi exilado na Inglaterra, onde entrou em contato com as ideias de John Locke, considerado o pai do liberalismo. Locke defendia que o conhecimento humano provém da experiência, criticava os governos absolutistas e propôs a teoria do contrato social, que defende os direitos naturais e a propriedade privada.
Outro pensador influente foi Montesquieu, que, em sua obra “O Espírito das Leis”, defendeu a divisão do poder em três esferas: Executivo, Legislativo e Judiciário, ideia que é amplamente conhecida e aplicada até hoje. Diferente de muitos iluministas, Montesquieu não era revolucionário, mas acreditava que a tripartição do poder seria benéfica para a sociedade.
O Iluminismo também influenciou a relação entre razão e fé. Muitos iluministas não eram ateus, mas deístas, acreditando que a razão era o caminho para compreender a existência de Deus. Além dos pensadores já mencionados, outros como Adam Smith, defensor do livre mercado, Thomas Jefferson, um dos líderes da Revolução Americana, e Jean-Jacques Rousseau, que defendia a democracia baseada na vontade da maioria, também contribuíram para o movimento.
As ideias iluministas não ficaram restritas ao campo teórico, mas foram aplicadas em revoluções e reformas. A publicação da Enciclopédia, editada por Denis Diderot, foi crucial para a disseminação do conhecimento científico, artístico e filosófico, especialmente entre a burguesia. O impacto do Iluminismo se manifestou de forma dramática na Revolução Francesa, onde os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade levaram ao fim do absolutismo, embora o período do Terror tenha mostrado o lado mais sombrio do movimento.
No entanto, o Iluminismo também apresenta suas contradições. Apesar de toda a ênfase na liberdade e na democracia, a escravidão atingiu seu auge durante esse período, e muitos pensadores iluministas também eram proprietários de escravos. Segundo Immanuel Kant, o Iluminismo representava a saída do homem de sua menoridade, a capacidade de usar a razão para entender o mundo.
Desdobramentos
As ideias iluministas influenciaram não apenas a Revolução Francesa, mas também a Revolução Americana e movimentos no Brasil, como a Inconfidência Mineira. Essas ideias moldaram a política e a filosofia de forma duradoura, deixando um legado que perdura até os dias atuais.
Espero que este resumo ajude a entender o que foi o Iluminismo, um movimento que durou aproximadamente de 1680 a 1780, que cultuava o uso da razão, criticava o governo absolutista e buscava alcançar a verdade através do pensamento racional. É importante lembrar o contexto histórico, as consequências e o impacto duradouro das ideias que surgiram nesse período.
0 comentários