A história da Biblioteca de Alexandria é envolta em mitos e verdades. Quando se fala sobre ela, muitos imaginam que a biblioteca continha todo o conhecimento do mundo antigo e que, com sua destruição, a humanidade teria mergulhado em um período de ignorância. Porém, a realidade é muito mais complexa e interessante.
Fundação: Era ptlomaica
A Biblioteca de Alexandria, fundada pelos Ptolomeus, não era apenas um local de armazenamento de conhecimento, mas parte de um templo dedicado às musas, deusas gregas das artes e ciências. Ela abrigava textos de diversas culturas, desde manuscritos egípcios e babilônicos, passando pelos trabalhos dos Elementos, de Euclides, até traduções da Bíblia hebraica para o grego, a chamada Septuaginta. Sua reputação era tamanha que, segundo uma história que surgiu séculos depois, todos os navios que chegavam a Alexandria eram obrigados a entregar seus livros para serem copiados.
As 3 destruições da biblioteca
A Biblioteca de Alexandria, no entanto, não foi destruída de uma só vez por um único evento, como muitos acreditam. O primeiro suspeito é Júlio César, que, em 48 a.C., incendiou frotas no porto de Alexandria, e alguns acreditam que o fogo se espalhou até a biblioteca. No entanto, autores contemporâneos ao evento não mencionam a destruição da biblioteca, sugerindo que ela já estava em declínio.
Outro suspeito são os cristãos, que, no século IV, destruíram o Serapeu, um templo que abrigava o que sobrou da Biblioteca de Alexandria. Embora haja relatos de livros sendo esvaziados de prateleiras, o destino desses textos é incerto — eles podem ter sido destruídos, vendidos ou até preservados por cristãos que valorizavam o conhecimento antigo.
O último acusado é o califa Omar, que, segundo fontes medievais, teria ordenado a destruição da biblioteca no século VII. No entanto, essas histórias são registradas mais de 500 anos após o suposto evento e parecem ter sido influenciadas por questões políticas e religiosas da época em que foram escritas.
Hipótese histórica mais provável
De acordo com a maioria dos historiadores, a verdadeira causa da decadência da Biblioteca de Alexandria foi um “fogo lento” — a deterioração natural dos materiais de escrita ao longo do tempo. Sem a constante reprodução e preservação dos textos, o conhecimento armazenado acabou se perdendo. Além disso, as crises políticas e econômicas do império e a falta de investimento nos centros intelectuais contribuíram para o fim da biblioteca.
O legado da Biblioteca de Alexandria, no entanto, perdura. Muitas das obras que passaram por suas prateleiras foram copiadas e circuladas por outras bibliotecas, garantindo que parte do conhecimento antigo sobrevivesse ao tempo. A história da biblioteca nos ensina que, para que o conhecimento seja preservado, é necessário esforço constante, não apenas contra a destruição deliberada, mas também contra o esquecimento e a negligência.
Assim, a Biblioteca de Alexandria não foi perdida em um único evento trágico, mas em um processo gradual de desinteresse e decadência. Ela permanece, até hoje, um símbolo poderoso da fragilidade e da importância da preservação do conhecimento humano.
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